sábado, outubro 11, 2003

O Sentido da Neve
Sábado, 11 de Outubro de 2003

Ana Teresa Pereira

Eles têm trinta palavras diferentes para neve.

"Eu vi-te caminhar sobre as águas."

"Havia uma camada de gelo."

"E antes disso tu caminhaste através de portas fechadas."

"Eu tinha uma chave."

Ela é Smilla. Ele é Tørk. Como algumas pessoas têm um sentido de Deus, ela tem um sentido da neve, da natureza; ele representa a ciência ocidental, a destruição do Outro, da imensidão, do que rodeia os seres humanos: o mar, a terra, o gelo. E, como num thriller, um deles vai perseguir o outro até o aniquilar. "Os campos brancos onde a neve se acumulou formam hexágonos no escuro. Corremos através do universo."

Muito antes de ler o romance de Peter Høeg, vi o filme de Bille August,

"Smilla e o Mistério da Neve". Gabriel Byrne ("e ele, o protagonista do meu livro, tem o teu rosto, os teus olhos, a tua voz, e é irlandês, e tem cinquenta e dois anos"), o mecânico; Julia Ormond, Smilla Jaspersen, uma mulher áspera, não só nas palavras, ela toda, uma mulher que sente a solidão como outros sentem a benção numa igreja, a luz da graça sobre ela, e que não sabe bem quem é (e recorda o mito árctico da criação: mesmo o corvo tinha no início uma forma humana, e procurava no escuro, e agia ao acaso, até que lhe foi revelado quem era e por que é que existia).

A morte misteriosa de Isaiah, um miúdo gronelandês que vive no mesmo prédio que eles, aproxima Smilla e o mecânico, e eles apaixonam-se um pelo outro. Smilla, que por princípio nada sempre contra a corrente, entrega-se ao mecânico, fala de si mesma, "Se alguém me perguntasse o que me faz feliz, eu diria: os números. A neve e o gelo e os números." Os números negativos, o facto de que sentimos a falta, o desejo de algo; as fracções, a consciência dos espaços entre os números, entre as pedras, entre as pessoas; e a história continua, a mente humana vai além da razão e cria os números irracionais, e eles são infinitos, e depois os números imaginários, que a nossa consciência não pode apreender, como uma paisagem aberta, como o horizonte para o qual avançamos e que continua a retroceder. Como a Gronelândia. É por isso que ela não suporta a ideia de estar fechada, quando o pai a trouxe para a Dinamarca recusou-se a dormir dentro de casa, uma ameaça da polícia quase a faz abandonar a investigação. Mas sabe que quando alguém é assassinado a sua alma não tem descanso, e ela quer que Isaiah encontre o descanso, e isso leva-a a continuar, quase perde a vida na explosão de um barco, e é o mecânico que a tira das águas geladas, e a leva para casa, e faz tudo para que ela não perca a consciência, ela tem de falar, fala-me da neve, há muitas espécies de neve, quanik, neve a cair, aquilluqqag, neve húmida, não tem consistência para se construir uma casa, nunca construas com ela, promete. Eu prometo. Depois ela está no quarto dele, na cama, fica comigo, estou mesmo aqui, deita-te comigo. E, como no livro, passamos da cidade (Copenhaga) para o mar, e depois para o gelo, e debaixo do gelo Smilla encontra vestígios de musgo e de salgueiros do Árctico. E o gelo foi criado em beleza, o frio arrancou do mar escuro um roseiral, um manto branco de botões gelados, nessa fase a estrutura dos cristais baseia-se no número 6. À distância há hiku, o gelo permanente, e ivuniq, blocos de gelo empurrados para a superfície, maniilaq, montículos de gelo, apuhiniq, neve que o vento transformou em duras barricadas. E é no gelo que Smilla vinga a morte de Isaiah, a morte de uma forma de vida ligada ao mundo e à natureza, é no gelo que ela descobre, como o corvo, quem realmente é.

E a voz de Gabriel Byrne numa noite de Londres: "Tens de ler o livro, Ana.

Eles têm trinta palavras diferentes para neve."

Nota: O livro tem uma tradução portuguesa na Asa: "A Senhora Smilla e a Sua Especial Percepção da Neve".

O SENTIMENTO DE LEVEZA QUE É A PRÓPRIA MORTE
Sábado, 11 de Outubro de 2003



A editora Campo das Letras acaba de publicar um breve texto de Maurice Blanchot intitulado "O Instante da Minha Morte" (em edição bilingue). A tradução é de Fernanda Bernardo, que entretanto prepara o anunciado encontro em Novembro em torno de Derrida (e não podemos esquecer que esta obra de Blanchot foi o ponto de partida para um extenso comentário do próprio Derrida). Esta edição tem ainda um desenho de Armando Alves. É o tipo de livro que pelo seu formato pode passar facilmente despercebido. O seu grafismo de uma sobriedade exemplar também não corresponde a nenhum berro mediático. Daí que valha a pena dizer: eis um texto de uma extrema intensidade escrito por um dos grandes nomes da literatura e do pensamento do século XX.

Simultaneamente, a excelente revista que é o "Magazine littéraire" publica na sua edição de Outubro um notável "dossier" intitulado: "L'énigme Blanchot - l'écrivain de la solitude essentielle". Nele colaboram Christophe Bident (autor de um projecto impossível: uma biografia de Blanchot), Jacques Derrida (que ao longo do mês de Outubro publicará dois livros relativos, num caso parcialmente, a Blanchot), Leslie Hill (um dos nomes ingleses que estudaram e escreveram sobre Blanchot, numa lista que cresce com impressionante vitalidade), Michel Surya, Daniel Dobbels, Jacques Lacan (num texto inédito), Jean Rodaut, Raymond Bellour, Philippe Lacoue-Labarthe (que anuncia um obra sobre Blanchot, "Agonie terminée, agonie interminable"), David Rabouin. Alain David e Jean-Luc Nancy. Um número a partir de agora imprescindível.

Sobre "O Instante da Minha Morte" os factos "reais" são conhecidos. Em 1944, Blanchot está com uma tia, a mãe, a irmã e a cunhada, numa casa que pelo seu porte e sobranceria poderá ser designada como "o Castelo". Alemães em perdição "lutavam em vão com uma ferocidade inútil". Com enorme violência, obrigam as pessoas a saírem da casa e alinham um pelotão de fuzilamento para executarem Blanchot. Camaradas resistentes organizam uma manobra de diversão que permite ao protagonista afastar-se e refugiar-se num bosque. Houve assim um momento em que a morte esteve mais perto do que nunca - era quase possível tocá-la no seu vazio, bastava que a ordem fosse dada e os tiros partissem. E depois há o que fica para lá desse instante da "minha morte": uma linha quase invisível que dobra a vida em duas partes qualitativamente diferentes. É nessa diferença que a literatura se torna possível.

Note-se que o título inclina toda a narrativa para o lado do sujeito ao submetê-la à expressão "a minha morte". Não se trata de "o instante da minha morte", segundo aquele princípio que Blanchot vai buscar a Celan, e que Derrida comenta: "Ninguém pode testemunhar por aquele que testemunha". E, por conseguinte, ninguém pode falar da morte sem falar da "minha morte".

Em segundo lugar, Blanchot diz "o instante". Mas este "instante" é a abertura de uma linha infinita, uma saída para o exterior do tempo, uma instalação num planalto imaterial de intemporalidade pura, algo que tem a ver com a obsessão de Blanchot pelo último", o útimo a falar, o último a morrer, o último a ser o último - e que é uma obsessão pelo que vem depois, pelo que começa quando o fim começa a acabar e deixa no seu rastro um espaço espectral, um quarto alucinado, uma casa suspensa. Donde, nada de menos instantâneo do que este instante que apenas é instante porque diante dele estamos sempre antes ou depois, numa absoluta evanescência da linha que separa e que é tão ténue que o instante é apenas o acontecimento da separação.

Em terceiro lugar, Blanchot assume o lado autobiográfico da sua narrativa, mas insere-o numa moldura ficcional que vem dessa passagem interminável do "eu" a "ele". Ele fala do "jovem - do homem ainda jovem" como se fosse outro, uma personagem de uma história, e não estivéssemos perante a história de um facto verdadeiro. Isto explica-se (se é que alguma coisa se pode explicar nesta concentração obsessiva no enigma) pelo facto de todos os acontecimentos serem vividos num estado de estupefação que não tem a ver com a realidade: "É no bosque denso que de repente, e sabe-se lá depois de quanto tempo, ele reencontrou o sentido do real". Embora se possa dizer que Blanchot viveu mais fora deste real que regressa do que dentro dele. Monique Antelme, no depoimento que nos dá para o "Magazine littéraire", afirma a dada altura: "Quando ele estava em plena escrita, e era obrigado a sair rapidamente por algum problema prático (habitávamos no mesmo bairro), era inacessível, inabordável. Não via ninguém, mesmo a dois passos dele. Estava noutro lado - mas não na rua".

Ora, mesmo quando não escrevia, Blanchot parecia sempre manter uma inacessibilidade última - o que nele era provavelmente um motivo de desencanto, o sentimento de uma intransponível solidão. Daí a famosa frase: serias capaz de tratar Blanchot por tu? É na medida em que ele se situa sempre no espaço entre o "eu" e o "ele" que nós não imaginamos poder falar com Blanchot tratando-o por "tu". Monique Antelme conta que em 68 "um amigo afirmava, talvez de uma maneira demasiado peremptória, que a Blanchot não se podia tratar por tu. Creio que ele ficou pessoalmente um pouco magoado por esta espécie de marginalização e voltou-se para mim a dizer: 'Monique, ela, vai tratar-me por tu' E eu respondi que nunca ousaria. Mais tarde, muito mais tarde, quando ele estava no hospital, pôs-se muito docemente a tratar-me por tu, sem fazer alarde disso. Era muito agradável, mas infelizmente só durou uma quinzena de dias: 'no fundo, não consigo.'"

O que há de contagiante neste curto texto "O Instante da Minha Morte" é algo que já aparecia em "La folie du jour": o estranho sentimento de leveza que fica ao atravessar a morte: "experimentou então um sentimento de extraordinária leveza, uma espécie de beatitude (nada, porém, que se parecesse com felicidade) - alegria soberana? O encontro da morte e da morte? No seu lugar, não tentarei analisar este sentimento de leveza. De repente, ele era talvez invencível. Morto - imortal. Talvez o êxtase. Ou antes o sentimento de compaixão pela humanidade sofredora, a felicidade de não ser imortal nem eterno. Doravante, ficou ligado à morte, por uma amizade sub-reptícia."

O que torna perturbante esta narrativa é o facto de ela ser narrada por Blanchot num obstinada dúvida em relação à consistência dos factos narrados. Desde as primeiras linhas, ao contar o que sucedeu a este jovem que é e não é Blanchot, que ele nos vai dizendo que sabe/mas não sabe a realidade efectiva dos acontecimentos. Não o diz dizendo que não sabe, ou que a memória fraqueja no trabalho de reconstituição. Diz dizendo "sei", o que só se justifica porque existe toda uma cercadura de "não sei" que envolve este "saber". Donde, o saber é algo que se propõe sobre um fundo de esquecimento, que não é psicológico, mas faz parte do enigma da vida, da experiência da morte, do espanto de sentir a morte como um estado de indizível leveza. Tudo o que dá densidade e maravilha ao enigma Blanchot.

Eduardo Prado Coelho
mil folhas/público

A Morte Sem Morte
Sábado, 11 de Outubro de 2003


Acaba de sair uma breve "narrativa" de Maurice Blanchot (1907-2003). "Narrativa? Não, narrativa nunca mais" ("La folie du jour"). Mas, mesmo assim, ainda e sempre a loucura: "A presença do texto inflige um desmentido à última liberdade da recusa. Um texto, uma textura, um tecido, uma obra! Contra toda essa recusa, algures, 'isso' tricota" (Levinas, "Sur Maurice Blanchot").

Trata-se de "O Instante da Minha Morte", de algum modo contíguo à obra primeiramente referida, se bem que talvez menos opaca. Uma muito cuidada tradução que, mesmo assim, mantém a seu lado o texto original.

Como trazer noutra língua a língua de Blanchot? O fulgor daquilo que nela se acende: a infinita e inabsorvível fonte da paixão da literatura, o que não se detém nunca e se afasta e difere à medida que dela nos queremos aproximar, e apropriar, mas que mesmo assim é irrenunciável, respira entre dois. E isso continuará sempre a arder além e a continuar uma impossível relação sem relação, um abrigo sem abrigo. A sintaxe do "sem" é, aliás, emblemática do autor, como o "nem"... "nem", esse não-lugar do neutro vibrátil, esse lugar exterior à dialéctica, estranho ao Um e ao Dois, aí, nesse campo desabrigado, terreno do ímpar, do Três, onde as coisas ganham a velocidade por vir, numa escrita que incendeia o silêncio e detém o Aberto e ganha, apagando-se, a própria e pura condição de Aberto. Como se a escrita de Blanchot tivesse nascido, de uma origem sem origem, para velar o infinito sem nunca nos prometer redenção. Firmando tão-só, sempre, uma literatura por vir, "numa interminável mobilidade" (J. Derrida, Parages). Chamando de novo um amigo, Levinas, a propósito da obra de Blanchot: "A essência da arte consistiria em passar da linguagem ao indizível que se diz, a tornar visível pela obra a obscuridade (...). Descrever a obra desta maneira suturada de contradições não é dialéctica, porque desta alternância de contrários, um submergindo o outro, não se engendra um plano de pensamento onde a alternância se ultrapasse, nem onde a contradição se apazigue (...). A literatura lança-nos assim numa margem em que nenhum pensamento pode amarar - ela desemboca no impensável. (...) Para Blanchot, a vocação da arte é ímpar. Mas sobretudo escrever não encaminha à verdade do ser. Poderíamos dizer que ela [a arte, a literatura] conduz ao erro do ser - ao ser como lugar de errância, ao inabitável. (...) O que acontece não cessa de não acontecer."

Em "O Instante da Minha Morte", pequeno livro tardio (1994), muitos sublinham a dimensão "autobiográfica", seria talvez o único em que essa dimensão estaria desocultada. Outros preferem a palavra auto-referencial para eludir o abertamente biográfico num autor que toda a vida se resguardou, literal e retoricamente. Tanto mais que o que aqui se dá já reverberava noutras obras, anteriores: de "La folie du jour" a "L'ecriture du désastre" e se calhar em todas as outras.

Blanchot abandonou em 1937 as suas primeiras posições políticas, refugiou-se na literatura e colaborou convictamente na resistência contra os alemães, a ponto de ser quase fuzilado em 44, como se conta, elipticamente, na obra agora traduzida, e se alude no fragmento de uma carta enviada a Derrida, que este transcreve, não ferindo a discrição de Blanchot: "Eis as duas primeiras linhas, que dizem o aniversário de uma morte que teve lugar sem ter tido lugar. Blanchot escreveu-me então, a 20 de Julho, sublinhando em primeiro a data desse aniversário: '20 de Julho. Há cinquenta anos, conheci a felicidade de ser quase fuzilado'" ("Demeure").

Blanchot aproximar-se-á de uma extrema-esquerda radical e de certa maneira centrará a sua vida e obra num núcleo: o combate contra Auschwitz e o anti-semitismo, uma auto-expiação necessária, sentimento inspirado sem dúvida por aquele que foi sempre o amigo: o filósofo judeu Emmanuel Levinas, cuja família albergou durante a ocupação alemã. Mais tarde o outro grande amigo seria Bataille.

O que é que realmente se poderá testemunhar, atestando, em "O Instante da Minha Morte"?

Já no fim da guerra e da anunciada derrota nazi, a tropa alemã acercou-se de um castelo em busca de um jovem resistente que aí estava. Ordenou a evacuação de todos, e o seu alinhamento para a morte. "Os camaradas do resistente queriam socorrer aquele que sabiam em perigo." Miraculosamente, um soldado destacou-se, sozinho, dos alemães que continuavam alinhados, sem perceber o que se passava, mas imobilizavam o tempo; o soldado toma essa iniciativa singular e solitária, imprevisível; abeira-se do jovem e diz: 'Nós, não alemães, russos', e, numa espécie de riso: 'exército Vlassov', e fez-lhe um sinal para desaparecer." O exército Vlassov, chefiado por um general com esse nome, tinha desertado para o lado alemão. O jovem salvou-se pela acção da resistência e de um russo que traiu o seu chefe e traiu a traição de Vlassov. Traiu o alemão para salvar Blanchot. O jovem afastou-se "até que se encontrou num bosque afastado, chamado 'Bois des Bruyères', onde permaneceu abrigado pelas árvores que conhecia bem": Um cavalo morto inchava na estrada, tudo se desmoronava, tudo ardia, o que atestava a duração da guerra, menos o castelo, respeitosamente. "Porque era o Castelo." O tenente nazi sonegara-lhe um manuscrito espesso. "Mais tarde", escreve Blanchot (e o que é mais tarde, agora e outros dícticos temporais?), "quando voltou a Paris, encontrou Malraux. Este contou-lhe que tinha sido feito prisioneiro (sem ter sido reconhecido), que tinha logrado evadir-se, perdendo embora um manuscrito. 'Não eram senão reflexões sobre a arte, fáceis de reconstituir, enquanto um manuscrito não o seria.'" O tenente nazi ter-se-á apoderado do manuscrito de Blanchot. E isso sim não se pode reconstituir. O que é um manuscrito? "É justamente isso, um texto mortal, um texto tal como se expõe a uma morte sem sobrevivência. Podem reescrever-se não manuscritos, podem reescrever-se os livros de Malraux, são apenas reflexões sobre a arte, cujo conteúdo não está ligado ao acontecimento único e ao vestígio da escrita" (J. Derrida, Demeure).

"O Instante da Minha Morte" testemunha o intestemunhável a mim mesmo - a minha morte -, a própria impossibilidade de partilhar esse segredo no instante que não deixa rasto e se exclui à temporalidade do testemunho. O livro articula três vozes, ou melhor, três instâncias. De volta ao três. O narrador abre o texto dizendo: "Recordo-me de um jovem", e da história desse jovem, mas esse jovem ora se conta na terceira pessoa, ora na primeira, ora entre os dois e aí também se instala o que sabemos do próprio autor. Esse jovem foi impedido de morrer pela própria morte. Ele viu de frente a morte do lugar da própria morte, ele, de fora, um terceiro, um sujeito sem sujeito, a ver a morte olhos nos olhos consigo mesma. "Permanecia todavia, como no momento em que o fuzilamento estava iminente, o sentimento de leveza que não conseguirei traduzir: liberto da vida? O infinito que se abre? Nem felicidade, nem infelicidade. Nem a ausência de temor e talvez já o 'passo/não-passo [le pas au-delá] para além. Sei, imagino que este sentimento inanalisável mudou o que restava de existência. Como se a morte fora dele não pudesse doravante senão embater contra a morte nele. 'Estou vivo. Não, estás morto.'" E dessa diferença, dessa ferida aberta no mesmo, emana toda uma literatura.


Maria da Conceição Caleiro
mil folhas/público